Fenaber quer manter um diálogo construtivo com todos os participantes do mercado e autoridades - Entrevista com Rafaela Barreda

Por Carlos Alberto Pacheco


A presidente eleita da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), Rafaela Barreda, conversou com exclusividade ao portal da ABGR. Rafaela é líder consolidada no setor, com mais de 25 anos de experiência em áreas como navegação, logística, aviação, corretagem, seguro e resseguro. Economista de formação, possui pós-graduação em Administração pela Universidade Federal Fluminense e MBA em Gerência de Riscos pela Funenseg/Coppe-UFRJ. Possui também certificação como Corretora de Seguros junto à Susep.

Eleita no dia 28 de abril último, Rafaela tomou posse como presidente da entidade em maio. A executiva também preside o Lloyd’s Brasil e já ocupou posições estratégicas nas áreas de desenvolvimento de negócios, técnica, regulatória, governança e relações institucionais. Além disso, é embaixadora da SouSegura, reforçando seu compromisso com a diversidade, inclusão e o fortalecimento da liderança feminina no setor.

Nessa entrevista, a presidente da Fenaber falou sobre as ações que pretende empreender no comando da federação e comentou sobre o Marco Legal de Seguros e a gestão de riscos no Brasil. “O risk manager é essencial para avaliar as operações da empresa, verificar a probabilidade de perdas e o impacto financeiro causado e encontrar formas de mitigar, prevenir e transferir tais perdas”, ressaltou Rafaela.

No rol de medidas já anunciadas pela senhora à frente da Fenaber, qual a primeira ação que pretende tomar no atual contexto do resseguro? 

As minhas prioridades à frente da Fenaber são as seguintes: fortalecer ainda mais a posição da entidade como ponto focal técnico sobre assuntos de resseguros, contribuir ativamente na melhoria regulatória, promover a inovação e garantir que nossas associadas estejam bem informadas para aproveitar as oportunidades e contribuir com o crescimento do setor de seguros brasileiros.

A federação é constituída por 26 empresas com características próprias e apetites comerciais diferenciados. Em sua gestão, como será possível estabelecer um canal de comunicação que viabilize receber as contribuições das associadas para os diversos temas do mercado?

O foco da Fenaber é o debate técnico. Embora as associadas tenham apetite comerciais diferenciados, a prática do resseguro está bem consolidada globalmente e, portanto, nossas discussões costumam ser bastante convergentes, sem que haja prejuízo para inovações. Não discutimos questões particulares, mas, sim, práticas e processos que afetam a todos e que promovam melhorias para o mercado.

O tema Marco Legal de Seguros é polêmico e continua alvo de preocupações do setor. Na sua opinião, quais os pontos da regulamentação da Lei nº 15.040/2024 que precisam ser aperfeiçoados?

A Lei 15.040 já está sancionada e entrará em vigor em 11 de dezembro de 2025. Desta forma, não há mais espaço para aperfeiçoamento. A lei é o que está publicado. Qualquer alteração está sujeita ao processo legislativo, isto é, aprovações nas casas do Congresso. O que poderá ser feito é o esclarecimento do funcionamento do mercado através de algumas normas infralegais. Porém, em sua grande maioria, a mudança de algumas práticas ocorrerá com o tempo, aprendizado de novas práticas e compreensão da nova lei.

A gestão de riscos no Brasil é um desafio a ser enfrentado com determinação. Há empresas – até de grande porte – que ainda não compreenderam o papel fundamental do risk manager nesse processo. Como a senhora analisa esse cenário? 

Infelizmente para muitas empresas, a cobertura de seguro é considerada uma despesa. Em sua grande maioria, o departamento de seguro está atrelado ao setor de compras ou financeiro. Entretanto, isto faz parte de nossa cultura. Não somos um país de grandes catástrofes e, portanto, não costumamos planejar um futuro resiliente. Quando avaliamos nossas ações, analisando possíveis impactos e consequências, geramos uma cultura de risco. O risk manager é essencial para avaliar as operações da empresa, verificar a probabilidade de perdas e o impacto financeiro causado e encontrar formas de mitigar, prevenir e transferir tais perdas, de acordo com a frequência e severidade, comparando com a capacidade financeira de recuperação. É um trabalho contínuo de avaliação, estudo e busca por soluções.

Como está a preparação de profissionais qualificados para atuar no resseguro?

Existem cursos de gerenciamento de riscos e seguros que dão uma base para quem deseja atuar no resseguro. Diversas empresas investem em formação interna. E experiência e conhecimento das práticas do setor ainda são fatores determinantes para uma boa qualificação.

As mudanças climáticas nunca foram tão severas quanto agora, pondo em xeque empreendimentos públicos e privados, a indústria e a própria sobrevivência das famílias. Qual a contribuição do resseguro como apoio às seguradoras para mitigação desse risco?

O setor de resseguro é a continuidade do setor de seguros. E, portanto, trabalhamos em colaboração com seguradoras e segurados, que pode incluir o setor público no desenvolvimento de soluções que atendam às necessidades emergentes. Investimentos em tecnologias avançadas e o compartilhamento de experiências são essenciais para soluções eficazes e sustentáveis.

O fato de ser representante do Lloyd’s no Brasil lhe concede mais expertise para ocupar a presidência da Fenaber? Comente a respeito.

Acredito que minha experiência com o mercado do Lloyd’s me permite congregar diferentes participantes do mercado e promover um melhor diálogo.

Informe qual será a sua agenda e prioridades como presidente da Fenaber em 2025

A Fenaber está empenhada em manter um diálogo aberto e construtivo com todos os participantes do mercado e autoridades para adaptação à nova lei e novas regulamentações. Devemos contribuir com informações e transferência de conhecimento para construção de resiliência, ao ajudar com práticas de mitigação de riscos e incentivar a sustentabilidade, além de promover a disseminação da cultura de gerenciamento e transferência de risco.

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